Uso do termo índio: entre estigmas e imposturas ao modo de ser indígena between stigmas and impostures of the indigenous way of being
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Resumo
Trazemos ao debate a utilização disseminada do vocábulo índio, propondo investigar o modo pelo qual essa denominação afeta a qualidade do trabalho das Equipes Multiprofissionais de Saúde Indígena. Definidos por uma abordagem exploratória-descritiva de caráter qualitativo, nos sustentamos em dois eixos teórico-metodológicos: a análise hermenêutica-dialética e o Modelo de Vigilância em Saúde, preconizado pelo Ministério da Saúde do Brasil. Ao longo do trabalho, mostramos ser coerente a substituição da denominação genérica índio pela mais contundente autoidentificação e declaração indígena, no exercício de uma educação cidadã; solidária e crítica. Essa ressignificação alinhou-se ao processo dialógico e ético necessário em territórios marcados pela coexistência intercultural, onde se destaca o papel da adoção de práticas de atenção e cuidado mais afeitas ao modelo de saúde preconizado. Concluímos que não se tratou tão somente da permuta de uma palavra por outra, ao relevar a visibilidade de uma sensibilidade cultural aprimorada e ao nortear a capacidade de repensar algumas concepções há muito enraizadas. A prática permanente e coerente do Modelo de Vigilância em Saúde contribuiu para catalisar e incentivar o sentido de respeito à diversidade cultural, impactando positivamente na resolutividade das ações frente às vulnerabilidades e necessidades em saúde das comunidades indígenas originárias do Brasil.
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